sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Caos, protestos e liberdades individuais


Hoje (12/08/11) saiu um artigo muito lúcido de Moisés Naím, com tradução de Clara Allain, na Folha de São Paulo (assinantes do UOL ou da Folha de São Paulo podem ler a matéria completa aqui), onde ele cita a seguinte frase:
"Nas últimas semanas, ruas e praças foram tomadas por milhares de pessoas que protestam contra o governo. Em alguns lugares, os protestos se tornaram muito violentos". Depois ele pede para descobrir qual o país onde isto aconteceu, citando Azerbaijão, Chile, China, Espanha, Filipinas, Grécia, Indonésia, Israel, Portugal, Reino Unido, Rússia, Tailândia, além de Bahrein, Egito, Jordânia, Marrocos, Líbia, Síria, Tunísia e Iêmen, entre outros. E a resposta singela é: EM TODOS.
Então, eu resolvi ir além e garimpar algumas frases interessantes:
"Tratam-se de criminosos comuns que agiram com selvageria esta noite"
"Algumas lojas foram atacadas por grupos de jovens que se uniram e parecem determinados a provocar desordens"
"Não há dúvidas de que faremos tudo que for necessário para restaurar a ordem nas ruas"
"Eles sentirão todo o peso da lei"
Quem disse estas frases?
a) Algum ditador do Oriente Médio afirmando que apenas bandidos saem as ruas e que a repressão é a melhor saída?
b) Os dirigentes britânicos que afirmam que, nos outros países as manifestações são legítimas, a favor da democracia etc etc etc e que apenas lá na Inglaterra são vândalos?
Bem, se você marcou a letra B, está correto. Estranho este tipo de comportamento, não? Ou será que, contra manifestação é mais fácil colocar a culpa nos manifestantes do que olhar para dentro e analisar o que está efetivamente errado? A propósito, estas frases foram tiradas em reportagem do UOL, disponível aqui.
Ah, e apenas um detalhe. Ainda segundo a Folha de São Paulo, "Detidos em Londres incluem criança e classe A", onde, nesta reportagem, citam o caso de que, entre os presos há pessoas de 11 a 46 anos (caramba, criminoso comum de 11 anos?) e contam ainda o caso de Laura Johnson, pega com produtos saqueados dentro de seu carro. Porém, um detalhe: Laura estudou nas melhores escolas do país, teve ótimas notas e frequenta cursos de inglês e italiano na prestigiosa Universidade de Exeter (pelo jeito lá os criminosos comuns são muito chiques, não?).
Uma vez que as manifestações ocorreram, o Estado precisa tomar algumas medidas para garantir a tranquilidade às ruas e olhem o que achei a respeito:
Medidas anunciadas pelo Governo:
Possibilidade de suspender a comunicação via redes sociais quando usadas para organizar atos de violência;
Toques de recolher;
Ampliação dos poderes da polícia para remover máscaras de manifestantes.
Uau, dirigentes de países, tais como Síria, China, Líbia, dentre outros devem estar vibrando com isto. Mas, estas medidas não vieram de lá? Não, se viesse de lá, o mundo ocidental reagiria contra a liberdade de expressão e manifestação. Onde já se viu limitar internet e redes sociais? Toque de recolher? Isto é ditadura. Não deixar manifestações onde os manifestantes tentem não se identificar com medo de repressão? Isto é um absurdo.
Pois bem senhores, estas medidas foram anunciadas pelo primeiro-ministro britânico David Cameron.
Será que temos dois pesos e duas medidas para manifestações, manifestantes e reações governamentais pelo mundo? De minha parte, espero que estas medidas, principalmente a primeira e a terceira, não passem de alucinações e devaneios em momentos de desespero. Para o bem da liberdade de expressão no mundo democrático.
A propósito, sou totalmente contra este tipo de manifestação onde a ordem é destruir e vandalizar, mas também acho que acima disto está o direito de livre manifestação e expressão e, se dermos o poder para o Estado determinar se posso usar um capuz, chapéu, boné ou o que quer que seja, se posso andar na rua com um grupo de amigos ou não e decidir se o que posto na internet para organizar um ato ou manifestação será pacífica ou não, estaremos abrindo as portas para legitimação de regimes não democráticos, me fazendo inclusive lembrar do célebre Big Brother, não o BBB, mas sim um personagem fictício, presente no espetacular 1984, grande obra de Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell.

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