segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Egito, Oriente Médio e Democracia

O Oriente Médio está em plena revolução. Primeiro a Tunísia, passando por passeatas em alguns países do Norte da África e culminando no Egito, um dos mais importantes, senão o mais importante país do mundo árabe.
Uma das razões do sucesso dos opositores no Egito está no acesso cada vez mais fácil e disseminado à informação e da capacidade de mobilização das redes sociais. Entretanto, o foco deste artigo é outro. Estará o Egito apto para a democracia?
Esta pergunta me vem à mente quando vejo as principais potências mundiais e Israel se omitindo na democratização do Egito. Falam em transição de poder, mais liberdade ao povo egípcio, mas ainda não vi nenhuma manifestação contundente sobre eleições livres, democráticas e justas para o país. Pelo contrário, o que vejo são manifestações dizendo que o Egito não estaria pronto para a democracia, como expressou Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU entre 2002 e 2008.
Isto nos faz refletir e questionar: o ocidente está pronto para uma democracia no mundo árabe? Por mais estranha e paradoxal que a pergunta seja, afinal, os Estados Unidos, quando da invasão ao Iraque, se propuseram a levar democracia ao povo árabe, para substituir os ditadores tirânicos por representantes eleitos pelo povo. Mas, até que ponto isto é verdade?
Para compreender o problema, vamos analisar três fatores recentes em ordem cronológica:
Faixa de Gaza, Irã e Egito. Depois de amplo debate e inédito acordo, eleições livres na Palestina, compreendendo Cisjordânia e Faixa de Gaza, segundo diversas organizações internacionais, eleições legítimas e sem fraudes que pudessem comprometer seu resultado final. Na Cisjordânia, tudo ocorreu como planejado, com Mahmoud Abbas sendo vencedor. Porém, houve um problema: na Faixa de Gaza outro candidato venceu, o partido Hammas, Organização terrorista para uns e movimento de resistência para outros. O que foi feito? Procurou-se saber a razão pela qual o povo palestino elegeu um movimento de resistência armado e não um partido moderado para o poder? Procurou-se uma via para colocar este movimento legítimo na mesa de debates, por mais difícil que possa ser? Não, simplesmente o resultado não foi reconhecido e até hoje a região sofre um desumano bloqueio econômico por parte de Israel. O que o mundo árabe pode concluir com isto? Simples: querem que seja democrático, desde que eleja um presidente pró-ocidente. Isto lembra a máxima de Henry Ford na qual poder-se-ia comprar qualquer cor de Ford, desde que fosse preto. Será isto o melhor para a região ou será a volta da dominação ocidental disfarçada de democracia?
Segunda eleição, Irã, 2009. Houve a suspeita de que o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad teria sido eleito de maneira fraudulenta, com pesados protestos no país e, infelizmente, um alto número de mortos e feridos. A comunidade internacional, em peso, criticou as eleições e pediu novos pleitos. Neste caso, pode-se concluir que o Irã está pronto para a democracia, por isso, novas eleições seriam fundamentais. Entretanto, eleições fraudulentas também sempre existiram no Egito e em outros países árabes aliados, e a comunidade internacional nunca exigiu novas eleições. Será que o fato de um ser opositor aos Estados Unidos, e outro ser aliado, influenciou nesta decisão?
Finalmente, Egito, 2011. Ditador governando o país por três décadas, povo na rua para destituí-lo do poder. O mundo, aparentemente, está com receio de tratar do tema de eleições livres, falando de uma transição de poder no seu sentido mais amplo. O pensamento por trás disto traz um argumento interessante: e se um movimento radical “tomar” o poder pelas eleições livres? Será que vale a pena um governo democrático contra os interesses ocidentais ao invés de um governo ditatorial amigo? E como ficará o Egito se a Irmandade Muçulmana conseguir chegar ao poder? O Estado seria governado por um movimento radical e terrorista e o Canal de Suez seria fechado e Israel bombardeado? Isto tudo me faz refletir sobre algumas perguntas: A Irmandade Muçulmana é realmente um movimento terrorista e radical? Haveria outros atores políticos moderados no Egito? O que o povo egípcio quer? Será que seria capaz de decidir o seu futuro? A sociedade egípcia, uma das mais progressistas do mundo árabe, vai colocar no poder um novo Taliban?
Adoraria ver chegar o dia em que o povo dos países árabes pudesse definir seu destino, como, a duras penas, conseguimos hoje no Brasil. Porém, tenho receio de que este dia ainda demore um bom tempo para chegar.

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