Mucama, segundo o dicionário Michaelis significa "escrava negra de estimação, escolhida para ajudar nos serviços caseiros ou para acompanhar pessoas da família ou para servir de ama-de-leite". Com a abolição da escravatura, as mucamas passaram a ser remuneradas, afinal, como as senhoras da sociedade sobreviveriam sem as suas mucamas? Quem faria o serviço doméstico para elas?
Infelizmente, isto se perpetuou ao longo do tempo. As mucamas passaram a ganhar nomes menos degradantes, como empregadas domésticas, ou o nome mais atual e pomposo de secretárias do lar. Entretanto, o salário continuava cada vez menor e diversos direitos trabalhistas eram e ainda são usurpados desta classe de trabalhadoras, normalmente negras, ou, parafraseando Caetano Veloso, quase negros de tão pobres.
Não vamos entrar aqui nas razões sociológicas deste problema. Quem quiser uma visão nesta linha, recomendo consultar um belo texto de Ricardo Corrêa Peixoto (http://www.brasilescola.com/sociologia/mucamas-criadas-ou-domesticas.htm) sobre o tema.
E este problema cultural passa de geração a geração por "osmose". Se quando eu era criança havia uma empregada para o serviço braçal doméstico, por que eu, agora adulto, ficarei responsável por este tipo de trabalho? Se eu quando criança não pude ter uma empregada porque era pobre, agora que tenho um pouco mais de dinheiro vou contratar uma, pois ter empregada é sinal de status.
Nos países do hemisfério norte, em especial Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental e Japão a realidade é totalmente diferente. É até certo ponto engraçado observar a reação de pessoas destes países quando encontram a nossa realidade de empregadas domésticas. A reação deles é de susto, espanto até, nos achando milionários ou extravagantes. Nestes países, é extremamente normal uma família cuidar de sua casa e contratar uma diarista apenas para a faxina mais pesada, não mais do que uma vez na semana, às vezes menos do que isto. E, por que eles fazem isto? Por que possuem uma visão social melhor do que a nossa? Ledo engano, isto é feito por uma única razão: custo, visto que profissionais que fazem serviços domésticos são bem remunerados, são caros para quem paga, logo, a enorme maioria das famílias não consegue contratar um profissional deste por muitos dias e empregada doméstica "full time" é privilégio da classe AAA. Classe média, média alta nem pensa em ter empregada, pelo simples fato de não ter dinheiro para isto.
Bem, de volta à realidade brasileira, vejo uma luz no fim do túnel e creio que não seja o trem vindo na contra-mão. Em diversas cidades há a diminuição de apartamentos grandes e a quase exclusão do quarto da empregada. Existem duas razões para isto, a diminuição do tamanho das famílias e o aumento do custo de uma empregada doméstica no Brasil, havendo casos até onde a própria família cuida da limpeza (com certeza um absurdo a algumas décadas atrás), além de ter diminuído drasticamente o número de empregadas que dormem na casa dos patrões, o que é ótimo, afinal, empregada que dorme na casa dos patrões praticamente fica à disposição do empregador 24 horas por dia. Além disto, o custo da empregada doméstica no Brasil está aumentando, pois hoje elas encontram muito mais oportunidades na indústria ou empresas de serviços e estão tendo a oportunidade de estudar e vislumbrar um futuro melhor
Em algumas cidades e regiões do Brasil isto já está se tornando realidade. Em muitas cidades, Blumenau onde resido inclusive, o rendimento de uma boa diarista já beira de 3 a 4 salários mínimos, o que não é um salário ruim. Sei que esta realidade não é presente em todos os estados brasileiros, mas a tendência de homogeneidade é plenamente aceitável em um futuro próximo
Finalmente, imaginem a seguinte situação: a diarista estaciona seu carro na frente da casa onde vai trabalhar, faz a faxina e, ao final do dia, cobra pelo número de horas trabalhadas e escolhe se vai embora ou se vai limpar outra casa, caso tenha agenda. Utopia? Não, a minha diarista já faz isto atualmente.
São Carlos Acutis, padroeiro da internet
Há um dia
Nenhum comentário:
Postar um comentário