No mercado financeiro, as agências de classificação de risco
foram criadas para ser um instrumento de aconselhamento e análise de mercados
estrangeiros, a fim de facilitar investimentos por parte de bancos, fundos de
pensão e corretoras locais. Por exemplo, é muito caro para um investidor norte
americano avaliar se é seguro investir em títulos do governo tailandês,
uruguaio ou turco; logo, se uma agência diz que o risco tailandês é mais alto
do que o uruguaio, que, por sua vez é mais alto do que o turco, tal informação
facilita e muito a alocação de investimentos.
Tais agências funcionaram bem quando da normalidade do
mercado, porém, já desde as crises dos anos 90 e mais fortemente na crise do
século XXI, que vem desde 2008, estas agências não foram capaz de detectar
problemas com títulos de bancos e de países (títulos soberanos), levando seus
detentores a graves perdas.
O maior problema é que as agências, até pelo seu relativo
sucesso passado, ficaram extremamente poderosas e uma revisão de notas,
principalmente para baixo, gera consequências políticas, muitas vezes de grande
magnitude. Logo, o que fazer quando uma agência observa que um título, antes
considerado como baixo risco de calote passa a sofrer ataques especulativos do
mercado e este país se vê em graves dificuldades para honrar seus compromissos?
Observa-se hoje um agravamento cada vez maior da situação
econômica europeia, com governos de países grandes e importantes como Espanha e
Itália com enormes dificuldades em rolar as suas dívidas, necessitando de
auxílio estatal externo, o chamado fundo europeu para estabilização, visto que
o mercado já não mais aceita rolar a dívida a juros baixos. Isto funciona como
na nossa vida cotidiana, quanto mais endividado o indivíduo, maior a taxa de
juros que precisa pagar ao banco. Porém, quando olhamos as classificações de
risco, os títulos italianos, por exemplo, tem uma classificação nível A, que
significa baixo risco de não pagamento (para efeito de comparação, a
classificação brasileira é B).
Por que então as agências simplesmente não diminuem a
classificação de risco destes países, para uma classificação padrão B ou até
mesmo C em alguns casos? Basicamente, por dois motivos. O primeiro político, se
a classificação piorar muito, as taxas de juros cobradas pelos mercados
subiriam mais ainda, aumentando o risco de calote, como uma bola de neve, além
de vários fundos de pensão no mundo serem obrigados, por regras internas, a
investir apenas em títulos com alta classificação, o que provocaria uma venda
em massa destes papéis, caso a reclassificação ocorresse. O segundo é um motivo
de imagem, pois uma forte reclassificação para baixo seria como se as agências
assumissem que, durante anos, produziram classificações enganosas para seus
clientes e, neste mercado, reputação é tudo.
Finalmente, isto está levando a um grande problema para as
agências. O mercado não está esperando as agências para reposicionarem suas
carteiras de investimento e, o que era para ser um guia para o mercado, está
tomando um rumo inverso, com as agências seguindo o mercado e não o contrário.
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