sábado, 25 de junho de 2011

O desafio do esporte amador brasileiro - o caso do Basquetebol brasileiro

Daqui a 5 anos, teremos no Rio de Janeiro os Jogos Olímpicos de 2016 e, apesar de todas as atenções estarem voltadas à Copa do Mundo de 2014, temos uma chance real de um verdadeiro fiasco esportivo dois anos depois.
E por que digo isto? Porque para formar atletas para 2016, temos que ter seleções de base fortes e adultas fortes hoje, para que, nos Jogos Olímpicos, termos seleções adultas de excelência. Agora, o que isto tudo tem a ver com finanças? Bem, no esporte, com raras exceções, para termos sucesso precisamos de estrutura e, para estrutura, precisamos de dinheiro. Porém, há um problema anterior, precisamos de atletas dispostos a jogarem estas modalidades e competirem pela seleção brasileira.
Como temos um esporte dominante (futebol), resta aos esportes “amadores” a luta pela segunda posição na preferência popular. E aqui surge um grande dilema, o que leva um jovem a praticar determinado esporte, bons clubes ou uma boa seleção?
Apesar de no futebol, haver uma identificação extremamente grande com os clubes, nos demais esportes, a história mostra que não, que a identificação é com a seleção e não com os clubes.
O vôlei teve um crescimento enorme na década de 80 e um boom na década de 90, justamente quando ganhamos a medalha de prata nas Olimpíadas de 84 e o ouro nas Olimpíadas de 92 e a seqüência enorme de títulos a partir daí. O basquete teve um grande avanço nas décadas de 50 e 60, no bicampeonato mundial e depois com as gerações de Oscar e Marcel no masculino com a vitória sobre os EUA no Pan-Americano de Indianápolis e a geração Hortência, Paula e Janeth no feminino com o título mundial e excelentes participações em olimpíadas. Exemplos parecidos temos no tênis, com o Guga, no judô, atletismo etc.
Hoje, nos esportes coletivos, vejo com maior tristeza o basquetebol (aliás, em parceria com o blog Bala na Cesta - http://balanacesta.blogosfera.uol.com.br/, fiz um trabalho de análise dos balanços da CBB que publicarei aqui em breve), que há anos amarga, principalmente no masculino e agora no feminino uma grave crise de resultados, o que leva a uma diminuição de praticantes, o que leva a campeonatos menos competitivos, com menos patrocínios, gerando menos receita, o que leva a crise de resultados e o ciclo vicioso se retro-alimenta.
Como fazer para melhorarmos o cenário? Hoje os jovens que jogam basquetebol vislumbram um dia atuar na NBA, assim como os jovens jogadores de futebol sonham em jogar na Europa. Porém, uma coisa é esquecida. No futebol, a seleção brasileira é extremamente forte e, quando um jovem é convocado para ela, seu preço no mercado internacional sobe, ou seja, ainda hoje, por mais estruturados que os clubes sejam, ainda é a seleção a maior vitrine dos ativos dos clubes, ou seja, seus jogadores. Se no futebol é assim, por que em outros esportes seria diferente?
No vôlei, temos diversos atletas com excelentes contratos em ligas como italiana ou russa. E, por que isto acontece? Simples, porque são jogadores de seleções vitoriosas, tanto a masculina quanto a feminina, e não porque jogam no Pinheiros, no Florianópolis, no Rio de Janeiro etc., por mais que as ligas masculinas e femininas sejam de alto nível hoje em dia.
Voltando ao basquete, o que vai levar um(a) jogador(a) a ser observado pela NBA ou pelas ligas européias? É o desempenho dele no Franca ou em qualquer clube ou seu desempenho nas seleções nacionais? Por que jogadores como Nenê, Leandrinho, Tiago Splitter e Anderson Varejão estão na NBA? Será que é pelo que fizeram pelos clubes ou pela seleção? Na verdade o pensamento predominante, principalmente do basquetebol brasileiro está equivocado. Se o sonho de um garoto é jogar na NBA, ele precisa ter em mente que, para isto, tem que arrebentar na seleção e não na NBB, que ainda é bastante fraca em comparação a ligas européias e à própria NBA e cabe à CBB tomar providências quanto a isto. Aliás, sobre isto, há um post muito lúcido no Bala na Cesta.
Próximo passo, como deixar o basquetebol mais forte? Atraindo patrocinadores. E, como atrair patrocinadores, como faz o vôlei, por exemplo? Empresa nenhuma, em sã consciência, deseja ter seus produtos vinculados a imagens perdedoras. Enquanto tivermos uma seleção brasileira perdedora (sem títulos), não vamos ter empresas dispostas a investir no produto chamado basquetebol e não vamos seleção forte e, por tabela, uma liga forte. Sem uma liga forte, não teremos clubes fortes, o que não chamará os jovens para o esporte. Logo, a equação é simples. Seleção vencedora = patrocínio = liga forte = mais participantes.
Novamente, vamos ao vôlei como exemplo. Hoje temos uma liga forte, pela consolidação do esporte, mas, se bem me lembro, na década de 90 tínhamos seleções praticamente permanentes, desde a base até o profissional justamente para ganhar títulos e, depois de consolidado, os patrocinadores se interessaram por uma liga forte e, então, começamos inclusive a repatriar jogadores e a trazer estrangeiros de qualidade para os clubes.
Logo, apesar de ser uma idéia não muito aceita nos meios esportivos, que tal seleções brasileiras de basquete permanentes, com estrutura de treinamento profissional, comissão técnica profissional e permanente, mescladas com jogadores que já atuam em grandes ligas e deixarmos os clubes como formadores de jogadores para a seleção? Sei que deixaríamos a NBB mais fraca tecnicamente no curto prazo, mas, com uma chance muito boa da seleção começar a fazer campanhas melhores em campeonatos mundiais, não digo sermos campeões de maneira rápida, mas, começarmos a disputar medalhas, ou quartos e quintos lugares e não como hoje, quando vibramos com uma sétima ou oitava colocação, ou, pior ainda, vemos que temos chances bastante reduzidas de classificação para os jogos olímpicos em um esporte que tantas conquistas já nos proporcionou.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog, Prof. Scarpin. Eu, como ex-aluna de Contábeis da FURB formada em fevereiro/2011, fico orgulhosa de saber que continuo estudando (pela pós-graduação) numa instituição que conta com profissionais tão engajados com o desenvolvimento da classe profissional! Sucesso!

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