quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dilemas de um Professor de Ensino Superior


O post de hoje tem um objetivo um pouco diferente. Como docente de ensino superior a 10 anos e como avaliador de cursos do INEP tenho contato com docentes de todo país e observo comportamentos similares entre eles.
De maneira geral, temos quatro estágios na docência: o início da carreira (até os 3 primeiros anos de docência), o crescimento (de 3 a 12 anos de docência), a estabilidade (de 12 a 20 anos de docência) e a aposentadoria (após 20 anos de docência).
No início de carreira, o docente preocupa-se em aprender como o sistema funciona, começa a enxergar a docência não apenas com o ministrar aula em sala, mas também com toda a parte pedagógica de elaboração de planos de ensino, reuniões, preenchimentos de formulários burocráticos etc. Normalmente, neste estágio, o docente enxerga-se muito próximo ao aluno, pois a diferença de idade entre eles tende a ser baixa.
Na fase de crescimento, o docente busca qualificação, pois percebe que o salário de início de carreira é baixo e não é possível passar a vida toda com esta remuneração. É neste período que o docente vai buscar uma especialização, um mestrado ou um doutorado. Em virtude disto, passa a entrar em contato com ferramentas e didáticas educacionais muito mais modernas e avançadas do que ele via até então. Normalmente, é o tipo mais querido pelos alunos, pois traz conhecimentos e técnicas novas para a sala de aula e ainda se encontra motivado para isto.
Depois que o docente se qualifica, há a fase da estabilidade. Esta é a fase mais perigosa da docência. Nesta fase, o professor entra na “crise de meia idade”. Seu mestrado ou doutorado já não é recente, novas tecnologias surgem a todo instante, docentes mais jovens chegam com novas técnicas e idéias, os alunos estão mudando a uma velocidade assustadora e, o pior, ainda há um longo caminho até a aposentadoria. No entanto, o docente não vê alternativa de carreira, pois já não é jovem o suficiente para uma mudança brusca na vida profissional. Neste caso, se o docente não está em contínua atualização, seja nos fatores pedagógicos, seja nos tecnológicos, a chance de haver um grande conflito de geração com os alunos e com os próprios professores mais novos é grande e pode fazer com que tenha uma grande decepção com a docência, com palavras como “os alunos estão cada vez piores”, “como era bom dar aula nos tempos de antigamente” etc.
Finalmente, o último estágio é a aposentadoria. Nos últimos 5 a 10 anos de carreira, o docente tende a preparar seu substituto e passa a atuar mais como um conselheiro, tanto para os alunos quanto para os docentes mais novos. Muitas vezes, temos dificuldade em enxergar isto e perdemos uma excelente chance de adquirir conhecimentos e conselhos destes profissionais.

Um comentário:

  1. Muito bom, professor. Lembra aqueles professores que já têm suas "transparências" ou slides prontos há 10 anos, mas continuam usando como se tivessem sido feitos 2 semanas antes das aulas. Temos que nos preparar constantemente para "enfrentar" a sala de aula. Claro que a quantitade de horas de pesquisa sobre o tema tende a diminuir, quando se passam alguns anos na mesma disciplina. Diminuir é uma coisa cessar é outra! Alguns não entendem isso.

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