sábado, 15 de janeiro de 2011

Mensagem de solidariedade aos moradores da Região Serrana do Rio de Janeiro

Vejo com muita tristeza o desastre natural que se abateu na região serrana do Rio de Janeiro nestes dias. Moro em Blumenau-SC a 5 anos e gostaria de partilhar a experiência que tive com a tragédia ocorrida por aqui no ano de 2008.

Na época, a região onde moro foi uma das menos atingidas na cidade. Mesmo assim, tive água na garagem do edifício onde moro, fiquei sem luz por três dias e sem água por oito dias. A sensação de impotência é terrível e só passando por uma situação desta que é possível entender a real dimensão deste sentimento.

Pessoal da região serrana do Rio de Janeiro, vocês devem estar se sentindo meio perdidos. A água está parando de subir e agora o que fazer? Primeiro, vocês vão sentir pânico a cada vez que o céu virar para chuva. Provavelmente este sentimento vai durar meses, não se preocupem, isto é absolutamente normal. Além disto, a primeira sensação que temos é ficar revoltado com o poder público, que o Estado precisa fazer algo. Entretanto, depois a gente percebe que a reconstrução depende dos cidadãos, dos moradores das cidades. Uma das razões para a cidade de Blumenau ter se reerguido de forma rápida (3 dias depois do início das cheias, com a cidade ainda sem água e boa parte dela sem luz, o comércio já estava 80% funcionando) foi a mobilização popular e das empresas locais no processo de limpeza e reconstrução. Era comum ver caçambas e tratores privados limpando as ruas e trabalhando independente do poder público, pois, é muito mais barato para a cidade como um todo se mobilizar para fazer por conta própria do que ficar com a economia paralisada esperando ajuda governamental.

E a sensação de perda é terrível. Mesmo quem não perdeu a casa ou familiares, tem amigos que perderam vidas, que perderam tudo o que possuem. E um problema horrível é que muita gente perde não só a casa, mas o terreno também. E a explicação é simples. Se um morro desaba, os terrenos mais altos simplesmente desaparecem, visto que o seu terreno caiu e a sua terra se foi.

Outro ponto a ser tratado é a falta de água e luz. Até então, eu imaginava que viver sem luz seria terrível. Porém, viver sem luz é algo fácil, quando se tem água. Viver sem água é a pior coisa do mundo. E não falo aqui de água para beber, mas sim de água para uso. Esta foi uma das piores sensações que tive durante a tragédia. Já imaginaram não poder lavar a louça de casa? E tomar banho? E dar descarga no seu banheiro? Em 2008 a falta de água foi anunciada pela prefeitura. No primeiro dia de enchente, as tubulações se romperam e a prefeitura anunciou que antes de 8 dias, a cidade toda ficaria sem água. Então, como usar o banheiro se não vou poder dar descarga? Isto te dá uma sensação de falta de higiene e você começa a ter que controlar as suas próprias necessidades fisiológicas.

Finalmente, um ponto a ser tratado. Uma das coisas que eu me assustei, desta vez pelo lado positivo, foi a grande preparação da Defesa Civil e da própria população. Quando a água começou a subir, a cidade já sabia para qual abrigo ir (cada bairro já possui o seu), onde levar donativos, quais ruas estariam alagadas, quais ruas teriam o sentido invertido para escoar o trânsito etc. E isto aconteceu aqui porque a região é propensa a enchentes, assim como a região serrana do Rio de Janeiro. Desde o início da colonização da região de Blumenau, a 160 anos, ocorrem grandes enchentes a cada 20 anos, em média, e enxurradas de forma praticamente anual. Uma boa Defesa Civil, com uma coordenação entre o poder público, empresas, associações de bairros, bombeiros, exército etc ajuda muito a minimizar os problemas.

Para encerrar, quero expressar todas as minhas condolências à população fluminense e que Deus abençoe esta terra tão linda e conforte a todos.

Um comentário:

  1. Olá Jorge,
    Obrigada pelo relato, vou compartilhar lá no Face e Twitter. Hoje pela manhã no Bom dia Brasil, falava-se exatamente do preparo que alguns grupos em locais de risco tomam ao organizar equipes de salvamento que se tornam fundamentais até a chegada da defesa civil e corpo de bombeiros.
    Fico me perguntando porque o exercito levou cinco dias para tomar a frente da situação?
    Minas Gerais estava até ontem com 84 municípios alagados. São Paulo teve regiões inundadas devido a ações irresponsáveis e/ou omissas do poder público.
    Mostrar que pode sim existir reconstrução em menor tempo e manter os serviços de comércio em funcionamento para dar continuidade a vida econômica que contribui para estabilizar principalmente o lado emocional dessas pessoas.
    Um abraço,
    Deise Lemos

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