sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O perigo da radicalização da imprensa

Acompanhando este segundo turno da eleição presidencial estou aborrecido, desanimado e, de certo modo, atônito com o que ando vendo por aí. A total falta de propostas dos dois candidatos, temas religiosos vindo à tona (será que alguém esqueceu que somos um Estado laico) como o aborto, afinal, se um candidato defende ou não o aborto, o que isto muda? Afinal, para legalizar ou fazer qualquer outra coisa em relação ao aborto deve haver uma lei do Congresso e não uma Medida Provisória da Presidência da República. Além disto, há uma chuva de dossiês contendo barbaridades reprováveis de ambos os lados, como o caso Erenice, dossiês do PT, desvio de caixa da campanha do PSDB, escândalo no Metrô de SP etc.
Até aí, tudo mais ou menos normal em se tratando de campanhas no Brasil. Entretanto, estamos vendo a radicalização da imprensa também, principalmente das duas revistas semanais mais importantes do Brasil, a Veja e a IstoÉ (nem vou entrar na Carta Capital, por ser uma revista muito secundária no cenário brasileiro).
A liberdade de expressão é um direito constitucional brasileiro e também expresso no Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde diz que a imprensa deve ser "independente, livre e plural" (sobre isto, recomendo um ótimo texto disponível em http://www.pautasocial.com.br/artigo.asp?idArtigo=179). Mas, será que estas duas revistas têm sido independentes e plurais? Vemos a revista Veja publicando capas e mais capas ou atacando o governo ou enaltecendo a oposição (a capa com o Aécio Neves posando de Super Homem chegou a ser até hilária de tão ridícula) e, ao mesmo tempo, vemos a revista IstoÉ com capas e mais capas com escândalos da campanha de José Serra. Sinceramente, nada contra, desde que assumissem isso como uma posição editorial, assim como a mídia norte-americana faz (Fox News sendo fortemente republicana por exemplo e outros com uma tendência mais democrata, como o NY Times). Isto faz com que os ânimos se exaltem, com acusações sobre a revista Veja de ser neo-liberal, revista a serviço dos grupos poderosos que perderam o poder com a chegada do "povo" à presidência, que quer a volta da ditadura etc., e, ao mesmo, acusações sobre a revista IstoÉ de ser uma revista "chapa-branca" que, para ter benesses do governo, faz questão de defendê-lo, lançando mentiras contra a candidatura ética que vai salvar o Brasil e nos guiar à Terra Prometida. Pode ser que nenhuma das críticas sejam verdadeiras (eu não concordo com nenhuma delas, até por isso a ironia nelas e as aspas), mas, ao não ter uma evidenciação clara da sua posição política na linha editorial, faz com que as críticas e acusações sejam factíveis.
Posar de independente com reportagens onde se enfoca escândalo de um lado apenas é perigoso, pois faz criar uma tentação da criação de controles sobre a mídia (o tal Controle Social da Mídia que o governo quer fazer é um claro exemplo) e, controle da mídia = caminho para a ditadura, afinal, se eu não posso escrever ou falar o que eu penso, eu não sou livre, basta lembrarmos da famosa frase de Voltaire "posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las."
Parece que nossos veículos não estão sabendo usar a liberdade de imprensa tão defendida ou então gostam de viver no limiar entre a investigação e a irresponsabilidade.

5 comentários:

  1. Muito bom texto, Professor! Vou divulgar, passar adiante!

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  2. Olá,

    Meu nome é Adriane e também sou finalista do Prêmio Top Blog, categoria SUSTENTABILIDADE. Se quiser dar uma olhadinha, segue o link:

    www.cpeaunesp.org

    Se quiser, pode votar!XD
    Obrigada..e boa sorte!

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  3. Olá Jorge! Quero agradecê-lo pela visita em meu blog, e atendendo ao seu convite estou aqui e já votei no seu também.

    Muito bom seu conteúdo, parabéns!

    A imprensa brasileira é fraca... muito fraca por sinal. Eu, mesmo não sendo apoiador do governo atual, repudio a forma como Veja vem utilizando-se da sua "credibilidade" para prejudicar descaradamente a candidata Dilma.

    O que mais me incomoda é a falta de pudor, transparência e imparcialidade ao publicar algo que tenha apenas o caráter informativo generalista. O governo Lula tem muito o que explicar, é verdade... mas os veículos de comunicação deveriam ater-se a fatos e expressar opiniões ideológicas apenas na Carta do Editor, na contra capa da revista.

    Agora que Dilma está eleita, vamos ver como as revistas abordarão o mandato...

    É por isso que ultimamente eu leio mais os blogs pessoais do que assisto TV, rsrsrs.

    Abraços,
    Adriano Berger
    http://nanoberger.blogspot.com

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  4. Maravilha Jorge! A independência no jornalismo é necessário, pena que "sempre" existirá tendência tanto de um lado como de outro. Isso, acho eu, é inevitável!

    Sucesso,
    Arthur Brasileiro
    http://blog.arthurbrasileiro.com

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  5. Olá Prof. Jorge
    Qualquer posição radical é sempre muito preocupantte. Quando isso acontece com um veículo "condutor" das grandes massas, o cuidado deve ser ainda dobrado.
    Parabéns pelo texto e pelo blog.
    Já tem o meu voto no prêmio Top Blog e mantenha sempre visitas ao Lounge Empreendedor.
    http://anamariamagni.blogspot.com/
    Sucesso!
    Ana Maria / @AnaMariaCoelho

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