quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Religião, hipocrisia e liberdade de imprensa


Hoje pela manhã, ao ligar a internet para ver as notícias do dia, fiquei estarrecido com uma notícia vinda da Inglaterra (http://noticias.uol.com.br/bbc/2010/09/15/anuncio-de-sorvete-com-freira-gravida-e-proibido-na-gra-bretanha.jhtm). O resumo da notícia é: "Um anúncio de sorvete com a fotografia de uma modelo como uma freira grávida foi proibido pelo órgão que regula a publicidade no Reino Unido. A Advertising Standards Authority considerou que o anúncio desrespeitava as crenças cristãs. A Advertising Standards Authority (ASA, na sigla em inglês) considerou que o anúncio desrespeitava as crenças cristãs, principalmente de católicos."

Bem, realmente eu acho este tipo de anúncio de extremo mau gosto. Porém, onde está a liberdade de imprensa, a liberdade criativa, o Estado laico, o livre mercado etc? Afinal, não seria responsabilidade dos consumidores (mercado) punir este tipo de anúncio não comprando os produtos da empresa que fez o anúncio? A propósito, o nome da empresa é Antonio Federici.

E isto se contrapõe a outro fato, amplamente noticiado pela imprensa. Em 2005, o dinamarquês Kurt Westergaard ficou famoso no mundo inteiro com uma charge em que o profeta Maomé aparece com uma bomba no turbante. Isto deixou os muçulmanos revoltados, pois, segundo a religião islâmica, não é permitido fazer pinturas do profeta Maomé, sendo, portanto, uma grave ofensa, talvez até maior do que a freira grávida do anúncio do começo deste post. Pois bem, o que aconteceu com a charge e com o cartunista? Bem, a charge foi reproduzida em diversos jornais mundiais e o cartunista ganhou o prêmio de mídia do fórum de jornalistas M100. Segundo a decisão de um conselho de jornalistas, Westergaard foi premiado devido à sua inflexível defesa da liberdade de imprensa e de opinião e pela sua coragem de se posicionar a favor desses valores democráticos e de defendê-los, apesar das ameaças de violência e morte. (a reportagem completa do prêmio encontra-se em http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5986184,00.html).

E agora, este pobre professor, pesquisador e blogueiro que vos fala fica com algumas questões:

1. Cartunista é jornalista?

2. Jornalista tem passe livre para ofender religiões e ser premiado por isto e publicitário não? Afinal, publicidade não é, de certa forma, regulada pela liberdade de opinião?

3. Ofender a religião muçulmana pode e ofender a religião católica não pode? Ou então, uma velha prática, comum nos idos da política brasileira: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei"?

Em minha opinião, isto só tem um nome: hipocrisia e desrespeito, principalmente com a religião muçulmana. Isso sem falar do ranço autoritário e de profunda ignorância religiosa de dizer que o islamismo é do mal e o cristianismo é do bem.

Só para finalizar, não sou nem muçulmano, nem católico, mas sou fortemente a favor do respeito e da liberdade de opinião.

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