Uma grande quebra de safra na produção russa de trigo fez os preços de pães e farinha subirem vigorosamente nas últimas semanas. Isto tem gerado preocupação em diversos países e até manifestações em outros, principalmente na África.
Este problema foi caracterizado por fatores climáticos. Entretanto, enxergo outro problema, não no curto prazo, mas no médio e longo prazo que é a tendência de inflação para os alimentos.
Para fundamentar este ponto de vista, vamos a algumas análises de cenários e tendências.
Países Desenvolvidos
Os países desenvolvidos estão com um poderio econômico menor, em termos relativos, do que nas últimas décadas. Alguns países estão com crise no emprego e na renda. Entretanto, mesmo em situações de crise, o consumo de alimentos é um dos últimos itens a ser reduzido, visto que alimentação é uma necessidade básica de todo ser humano.
Aliado a isto, a fronteira agrícola dos países desenvolvidos está no limite. Não há mais terras nuas para serem desbravadas, nem florestas para serem derrubadas. Por mais que avanços tecnológicos possam melhorar a produtividade, sua agricultura é pouco competitiva, sobrevivendo com enormes subsídios governamentais, o que deve ser diminuído no médio e longo prazo, pois os países em desenvolvimento usarão isto como moeda de troca para abrirem seus mercados aos produtos industrializados.
Países em Desenvolvimento
É o grupo de países que mais se desenvolve no mundo atualmente, com aumento da sua importância econômica relativa, bem como aumento de renda de sua população. Estes países, principalmente Brasil, Rússia e, de certo modo a China, são grandes produtores de alimentos e exportam um bom excedente de produção.
No médio e no longo prazo, caberá a estes países, juntamente com Argentina, em certo ponto a Austrália e alguns países africanos (com o avanço da tecnologia de produção de alimentos) prover alimento para a população mundial. Mas, isto tem um problema na equação. O consumo de alimentos nestes países está aumentando e, com o advento do aumento de poder de grupos que desejam um mundo mais sustentável (o que eu concordo) está fazendo com que a expansão da fronteira agrícola não seja tão grande quanto necessário. Tomando como exemplo o Brasil, há uma clara objeção ao avanço da fronteira agrícola rumo à Amazônia ou a outros ecossistemas, tais como o Pantanal, Mata Atlântica ou Caatinga.
Resta então a tecnologia. Mas, a tecnologia está enfrentando algumas barreiras de consumo. Uma grande saída para o aumento da produtividade é por meio da transgenia, onde serão produzidos alimentos em maior quantidade a um menor custo. Entretanto, a transgenia enfrenta um grande problema quanto à sua liberação por parte dos governos. Os governos são reticentes a liberar os alimentos transgênicos, pois não há garantia científica que tais alimentos não causarão danos ao ser humano no seu uso prolongado (20, 30 anos); porém, os estudos não podem ser feitos justamente pela falta do seu uso prolongado.
Países mais Pobres
Para completar o cenário, algo que não está sendo tão percebido no mundo é o aumento de renda dos países mais pobres, principalmente os países africanos. Por mais que a renda destes países ainda seja baixa, ela está em um ritmo crescente e, neste caso, quando a renda é baixa e cresce, o primeiro e principal item de aumento de gasto na população é com alimento, pois este excedente de renda vai direto para o consumo de alimentos.
Síntese dos panoramas
Considerando que o consumo de alimentos nos países desenvolvidos não está caindo e o consumo tanto nos países em desenvolvimento quanto nos mais pobres está subindo e considerando também que a produção alimentícia está perto do limite nos países desenvolvidos e enfrentando barreiras na sua expansão nos países em desenvolvidos, há claramente um cenário de aumento na demanda de alimentos maior do que o aumento na oferta e, como um preceito básico em economia, o preço destes produtos tendem a subir, caso este cenário se confirme.
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