sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Indignações e Revoltas Virtuais


Este é um assunto que há tempos penso em escrever, mas apenas neste começo de ano, aproveitando boas e merecidas férias, consegui refletir e chegar a um bom termo sobre este tema que considero intrigante e desafiador. Por que o brasileiro protesta tanto na internet e não transforma isto em protestos reais?
Observando apenas o Facebook, uma das mídias sociais mais utilizadas no Brasil, vemos inúmeras comunidades a favor da ética na política, contra corrupção, a favor da corregedora do Conselho Nacional de Justiça e até algumas mais insólitas, como as que propõem a divisão do país em vários pequenos países, tendo uma para o Sul, outra para o Nordeste, outra para São Paulo e assim por diante.  
Além das redes sociais, há alguns sites de petições públicas, onde alguém posta uma petição e começa a enviar convites para assinarem e, quem sabe, algum dia, isto se torne realidade. E há petições para tudo, para reforma política, diminuição da carga tributária, duplicação de estradas, redução de tarifas etc.
O intrigante deste assunto é que, embora com debates acalorados e indignações monumentais na internet, os movimentos não ganham as ruas e, quando ganham, o resultado é modesto (com honrosas exceções como, por exemplo, o movimento pela federalização da Universidade Regional de Blumenau-SC que conseguiu levar mais de 7.000 pessoas para as ruas).
E por que isto acontece? Será que somos um povo pacato por natureza e que aceitamos tudo o que nos é proposto? Apesar de ser uma resposta simplista, creio não ser verdade, visto que a população já fez manifestações imensas nas ruas, tais como Diretas Já, impeachment do ex-presidente Collor, campanhas salariais de diversas categorias, mobilizações estudantis por causas não tão estudantis, como, por exemplo, aumento de passagens de ônibus etc.
Além do povo pacato, há ainda uma segunda explicação: a culpa é da mídia, ou melhor, da grande mídia que está interessada em deixar os brasileiros na ignorância e está de conluio com os poderosos de plantão etc. etc. etc. Isto me lembra, quando eu era adolescente e depois na juventude (décadas de 80 e 90), do bordão “Fora FMI”. O FMI era culpado das nossas mazelas. Dívida externa? Pobreza? Baixos salários? Ditadura? Inflação? Educação ruim? Saúde em frangalhos? Unha encravada? Culpa do FMI. Agora a bola da vez é a mídia. Todos os males brasileiros são culpa da grande mídia, da imprensa chapa branca e tudo o mais que sempre ouvimos. Entretanto, no final de 2011, o movimento contra a corrupção no Facebook, com milhares de seguidores tentou ir para o mundo real, com resultados decepcionantes, com, por exemplo, 100 pessoas na Avenida Paulista e o fato foi coberto com bastante destaque pela grande mídia. Bem, 100 pessoas é menos do que dois ônibus lotados e o grupo contrário a este movimento viu nisso outro conluio da imprensa para derrubar o governo do PT etc. etc. etc.
Então, por que lá fora as manifestações acontecem e aqui não? Qual a causa? Será que eles são tão mais evoluídos do que nós? Creio que não e talvez a resposta seja uma só: economia. Momentos econômicos bons levam ao comodismo da população e o inverso é verdadeiro. Entretanto, isto é assunto para um próximo texto, em breve.

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